Falta de transparência e possíveis infrações à LGPD

Pixabay


Jornalista e advogada

A recente decisão da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) de interromper a coleta de dados biométricos da Tools for Humanity (TFH) no Brasil levanta sérias questões sobre privacidade, transparência e segurança digital. A empresa, que promove o escaneamento de íris como parte de seu projeto World ID, alega que a tecnologia garante maior segurança na era da inteligência artificial. No entanto, a falta de clareza sobre o uso desses dados e a oferta de criptomoedas como incentivo suscitam preocupações legais e éticas.

A LGPD estabelece que o consentimento para o tratamento de dados pessoais sensíveis deve ser livre, informado e inequívoco. No caso da TFH, a oferta de criptomoedas como recompensa compromete essa liberdade, pois pode induzir indivíduos a aceitarem os termos sem a devida compreensão das implicações. O fato de mais de 400 mil brasileiros já terem submetido suas íris ao escaneamento mostra a amplitude do problema.

Outro ponto preocupante é a falta de convergência na comunicação da empresa. Enquanto a ANPD sustenta que a coleta de dados biométricos não segue as exigências legais, a TFH defende-se alegando conformidade com a legislação brasileira. A empresa também acusa a disseminação de informações falsas como fator determinante para a decisão da ANPD, sem apresentar dados concretos que refutem as alegações da entidade reguladora.

O escaneamento de íris pode ter aplicações legítimas em diversas áreas, como controle de acesso em ambientes de alta segurança, autenticação bancária e prevenção de fraudes digitais. No entanto, a utilização desses dados exige protocolos rigorosos de segurança e transparência quanto ao armazenamento, compartilhamento e possíveis integrações com inteligência artificial. A preocupação expressa por especialistas sobre o risco de associação dessas informações com algoritmos avançados reforça a necessidade de regulamentação clara e fiscalização constante.

Digital

O caso da TFH também alerta para possíveis violações da LGPD. A coleta de dados biométricos sem transparência e consentimento adequado pode resultar em uso indevido das informações, como compartilhamento com terceiros sem autorização ou vazamentos que coloquem em risco a identidade digital dos usuários. Como as consequências da exposição de dados biométricos são irreversíveis, diferentemente de senhas que podem ser alteradas, a preocupação se torna ainda mais grave.

A proibição imposta pela ANPD é uma medida necessária para resguardar os direitos dos cidadãos e reforçar a necessidade de transparência no tratamento de dados sensíveis. O caso da TFH deve servir de alerta para outras empresas que lidam com biometria, destacando a importância de seguir rigorosamente a LGPD e garantir que os usuários tenham pleno controle sobre suas informações pessoais. A proteção de dados é um direito fundamental, e a segurança digital não pode ser comprometida em nome da inovação tecnológica.


Direito e Tecnologia

Postagem Anterior Próxima Postagem